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Operar ou não operar, eis a questão!

Durante a longa trajetória da formação médica e, posteriormente, de especializações, os médicos sempre são treinados para “aprender a fazer”. Aprender como fazer uma boa anamnese, um bom exame físico, a suturar, medicar, operar, entre outras funções.

Tomando como referência a carreira dos médicos radiologistas intervencionistas, pratica-se por dias, meses e até anos para finalmente conseguir popularmente “acertar a flecha no alvo”, seja nos procedimentos realizados com agulha, ou então, saber como “entupir e desobstruir os diversos canos do corpo humano” nos procedimentos de cateterismo.

“Apesar da extensa e difícil caminhada até me tornar um médico especialista em radiologia intervencionista, poucos profissionais que passaram pelo meu caminho me ensinaram o que hoje para mim é o mais importante: quando não se deve fazer uma cirurgia, um exame ou alguma intervenção”, destaca Dr. Rafael Dahmer Rocha, médico Radiologista Intervencionista e Angiorradiologista.

livro de Henry Marsh
“Sem causar mal” de Dr. Henry Marsh

Recentemente, em um artigo publicado pela BBC, o conceituado neurocirurgião britânico Henry Marsh descreve histórias de vida, morte e cirurgias, baseadas em seu livro. Em uma das frases mais impactantes de sua entrevista ele relembra um ditado antigo: “Um médico precisa de meses para aprender a fazer uma cirurgia, anos para saber quando deve realizar, mas incríveis 30 anos para saber quando não se deve fazer uma cirurgia”.

A matéria nos aproxima da realidade das pessoas por trás dos procedimentos. Esse é um assunto interessante, porém pouco comentado entre os profissionais, muitas vezes por receio de como serão interpretados ou julgados. Mas é importante lembrar que estamos lidando com pessoas, e que o diálogo é essencial para saber quando intervir e quando não intervir.

Primum Non Nocere

“Se tivesse que escolher uma frase que norteia as minhas condutas médicas, com certeza é Primum Non Nocere. Apesar dos procedimentos intervencionistas serem minimamente invasivos, sem cortes e com baixo risco de complicações, nunca haverá um risco menor do que se abster de fazer algo que não deva ser feito”, , comenta Dr. Rafael Dahmer Rocha. O seu argumento baseia-se em um dos princípios fundamentais da ética médica presente no juramento de Hipócrates, conhecido como Primum Non Nocere, que em latim significa “primeiro, não causar dano”. 

operar ou não operar

Pôde-se perceber que na rotina de um médico há frequentemente um conflito de decisões, que podem ser tranquilas, mas que algumas vezes tornam-se uma “escolha de Sofia”. Essa expressão baseada na história de um livro homônimo, refere-se à mãe que precisa escolher qual filho sacrificar em um campo de concentração nazista e que ficou muito evidente na pandemia, em que médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde precisaram escolher qual paciente salvar em detrimento do outro.

“O que tenho percebido na relação com colegas médicos de diversas especialidades é que a pergunta mais comum nas nossas reuniões clínicas é – O que vamos fazer para o paciente? -, e diversas vezes a melhor resposta pode ser: Não vamos mais intervir, pois é a conduta mais adequada. Vamos lhe oferecer medidas de conforto”, complementa Dr. Rafael.

Quando uma intervenção é a melhor opção?

Com o tempo e as experiências na área, um profissional realmente qualificado aprende a “evitar” o desnecessário. Qualquer procedimento, exame ou intervenção traz um desconforto para o paciente, seja financeiro, emocional ou físico. Por isso é fundamental que a decisão de realizá-la seja bem avaliada e baseada em uma análise cuidadosa de diversos fatores, como:

  • A história de vida do paciente
  • Questões familiares e religiosas
  • A gravidade da condição do paciente
  • A expectativa de vida
  • A qualidade de vida que esse paciente terá com e sem a intervenção
  • Qual o risco-benefício e o custo-benefício de um procedimento
  • Decisão do paciente

Mesmo profissionais com anos de experiência sentem um “frio na barriga” ao realizar um procedimento complexo e com riscos de morte. Sabendo que cada caso é único, o caminho até o momento da cirurgia pode ser longo, demorado e perturbador.

O foco do médico deve estar sempre naquilo que preserve a saúde do paciente e, se for necessário interferir na condição da doença, que a decisão seja realizada com múltiplos profissionais envolvidos, optando-se por aquilo que ofereça o menor risco possível e a maior chance de melhora na qualidade de vida ou cotidiano daquela pessoa.

O valor da conexão entre médico e paciente

Não menos importante, um relacionamento médico e paciente de qualidade pode se tornar o melhor tratamento. Sabe-se que nos últimos anos as doenças mentais aumentaram exponencialmente e que a tecnologia afastou o contato entre as pessoas.

Uma consulta frente a frente, com troca de olhares e afeto, é capaz não só de esclarecer dúvidas, mas de gerar confiança no paciente de que o médico realmente quer o melhor para ele.

“Boa parte dos pacientes que atendemos são oncológicos, e apesar de não ser nada fácil contar a eles e aos familiares sobre a real condição da doença, é importantíssimo que o médico seja sincero, procure entender as aflições, crenças e objetivos futuros dessa pessoa, para qualquer que seja a escolha de ambos (médico e paciente), seja uma decisão unânime e confortável dentro do possível”, afirma Dr. Rafael.

É importante lembrar que o avanço tecnológico, destacando-se os envolvidos na medicina intervencionista, melhoraram muito a qualidade de vida dos pacientes e permitiram reduzir os riscos e complicações. Entretanto, não basta ter tecnologia, ter experiência, ter habilidade cirúrgica – é preciso ter conexão com o paciente, saber quando operar e, o mais importante, saber quando não fazer nada, “afinal, trabalhamos com vidas, e o bem-estar do paciente deve ser nossa prioridade”, conclui.

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