A partir de setembro, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilizará uma nova alternativa de tratamento para pacientes com metástase hepática, uma condição que afeta muitos pacientes com câncer colorretal. A técnica de ablação, que utiliza uma agulha para destruir o tumor, oferece uma opção menos invasiva comparada à cirurgia tradicional.
O que é a Ablação?
A ablação é um procedimento médico minimamente invasivo onde uma agulha é inserida no tumor, guiada por equipamentos de imagem, como tomografia ou ultrassom. Essa agulha aquece até temperaturas superiores a 60 graus Celsius, destruindo as células cancerígenas no local. Este tratamento tem sido usado principalmente para cânceres primários no fígado e no rim, mas agora se mostra eficaz para metástases hepáticas de câncer colorretal.
Vantagens da Ablação
- Menor Morbidade: Estudos mostram que a ablação resulta em menor taxa de complicações comparada à cirurgia tradicional.
- Menor Tempo de Internação: Pacientes submetidos à ablação geralmente necessitam de apenas 24 horas de internação, em comparação aos quatro dias requeridos pela cirurgia convencional.
- Menor Risco de Infecções: A ablação apresenta menor risco de infecções pós-operatórias.
Estudo de Validação
O procedimento de ablação foi validado em um estudo recente apresentado no encontro anual da American Society for Clinical Oncology (ASCO). O estudo, denominado Collision, comparou os resultados de 299 pacientes com até 10 nódulos de até 3 centímetros, sendo 148 submetidos à cirurgia convencional e 147 tratados com ablação.
- Mortalidade: Zero na ablação contra 2,1% na cirurgia.
- Tempo de Internação: 24 horas para ablação contra quatro dias para cirurgia.
- Eventos Adversos: Menor ocorrência na ablação comparada à cirurgia.
Inclusão no SUS e Planos de Saúde
Desde maio, a ablação está incluída na lista de procedimentos obrigatórios pela Agência Nacional de Saúde (ANS) para planos de saúde. Agora, com a nova portaria do Ministério da Saúde, o procedimento também será oferecido pelo SUS para casos de metástase hepática irressecáveis ou ressecáveis com alto risco cirúrgico, com tumores de até 4 centímetros.
Para a realização da ablação, são necessários apenas equipamentos de tomografia e a agulha específica para o procedimento. A maioria dos hospitais já possui tomógrafos, facilitando a implementação do tratamento.
Benefícios Econômicos e Operacionais
O custo reduzido do procedimento de ablação, que não necessita de uma sala cirúrgica e pode ser realizado em uma sala de tomografia, foi um fator decisivo para sua inclusão no SUS. A expectativa é de que esta opção ajude a aliviar a carga sobre o sistema de saúde, proporcionando um tratamento eficaz e menos dispendioso para os pacientes.
O Ministério da Saúde informou que a portaria para inserção da ablação na tabela do SUS está em fase final de elaboração e deve ser publicada até o fim de agosto. Atualmente, a técnica de radiofrequência com agulhas já é usada em hospitais da rede de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia, principalmente para pacientes idosos que não podem passar por cirurgia convencional.
Câncer Colorretal
O câncer colorretal é o segundo tipo de câncer mais comum no Brasil, afetando o intestino grosso (cólon) e o reto. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a incidência dessa doença vem crescendo, especialmente entre a população mais jovem, na faixa dos 20 aos 49 anos.
Entre 1990 e 2019, a mortalidade por câncer colorretal aumentou 20,5% na América Latina. Aproximadamente 20 a 30% dos casos de metástase hepática são operáveis, o que justifica a busca por alternativas menos invasivas como a ablação.
Futuro da Ablação em Metástase Hepática e outras Metástases
Embora a ablação seja validada principalmente para metástases hepáticas de câncer colorretal, a técnica também pode ser aplicada em outros órgãos como pulmão, rim, tireoide e útero. No entanto, são necessários mais estudos comparativos (randomizados) para comprovar sua eficácia em outras situações.
O conhecimento científico é construído de forma incremental. Nem todos os tipos de câncer possuem estudos com força estatística tão robusta quanto o estudo sobre metástases de câncer colorretal, mas o avanço das pesquisas pode abrir caminho para novas aplicações da ablação.
A incorporação da ablação no SUS representa um avanço significativo no tratamento de metástases hepáticas, oferecendo uma alternativa menos invasiva e mais econômica para os pacientes. Com a promessa de menores complicações, menor tempo de internação e custos reduzidos, esta técnica pode transformar o panorama do tratamento de câncer no Brasil. Aguardamos a publicação da portaria final pelo Ministério da Saúde para que este benefício esteja disponível a todos os pacientes que necessitam.